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2010 | Exposição “Água Viva”, Gilberto Salvador

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Quase todo Press release de exposição de artes plásticas começa falando do tempo – em geral muitos anos – em que o artista não expõe na cidade… O que não é o caso de Gilberto Salvador, que abriu em 2009, no jardim do Museu da Casa Brasileira (e com muito sucesso), sua mostra Gênesis, na qual apresentava 30 peças tridimensionais orgânicas/geométricas e também lançava um livro. E, em 2006, 17 mil pessoas foram visitar sua individual que (re) apresentou obras suas da Bienal Internacional de São Paulo de 1969, com referências à III Jovem Arte Contemporânea de 1969 e outras peças de época na Galeria de Arte do SESI e Espaço Cultural da FIESP, na Av. Paulista.

 

A pintura, a escultura e a gravura deste artista de várias técnicas, além de arquiteto formado pela FAU/USP, foram motivo de muitas dezenas de exposições individuais e coletivas ao longo 46 anos de sólida carreira – para falar apenas de Bienais internacionais, Gilberto Salvador participou de 9 ao todo, sendo quatro delas em São Paulo. Seus trabalhos monumentais ocupam espaços públicos importantes – da Pinacoteca do Estado ao metrô – nesta cidade em que nasceu há 64 anos. Porque, segundo a Profa. Maria Cecília França Lourenço, “as obras carregam aspectos comuns a toda humanidade, trazendo formas geométricas regulares e irregulares, facilitando muito a interação com todos”.

Mas desta vez é diferente. Porque a exposição no novo espaço expositivo da AC Galeria (Rua José Maria Lisboa, 1008 – Jardins) tem um aspecto intimista, ainda que enfrente o gigantesco mar: em ‘Água Viva’, Gilberto Salvador mostra porque utiliza várias técnicas para expressar sua arte. Com 13 obras em diferentes suportes – o que inclui materiais tão diversos quanto tela, papel, bronze fundido e latão, madeira e ferro, acrílico e fibra de vidro, resina e até bolinhas de gude, ele apresenta uma suíte desenvolvida a partir das suas memórias junto ao mar desde os sete anos de idade, daí o título da mostra.

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“PORQUE ÁGUA-VIVA” por Gilberto Salvador

“… eram sete horas da manhã , e o mar parecia estar acordando, com sua ondulação macia, mas com a força que resultava dos ventos da noite anterior.

Entrei com minha prancha de jacaré e comecei a nadar na direção da arrebentação. Era inverno, e algumas águas-vivas estavam aparecendo como se fossem bailarinas sedutoras e venenosas, portanto… cuidado!

Após a arrebentação, encontrei uma família de golfinhos que nadavam tranquilamente, provavelmente na caça de alguns peixes que eu tinha notado durante as formações das ondas.

De repente ela se formou forte e composta com mais outras duas, do jeito que eu sempre gostei. Dei um forte impulso e desci na onda prazerosamente – na sequência, as outras duas também deram o impulso, e cheguei novamente na areia…”

No mar tudo começou

Esta Suíte que compõe a exposição Água Viva foi desenvolvida a partir de memórias da vida junto ao mar, este caldo biológico, nos meus últimos 56 anos. Com seus animais, o meio geográfico e todos os códigos que, de forma direta – ou às vezes subliminares – ficaram registrados e incorporados em minha poética durante os mergulhos, os passeios nas praias, as velejadas e as nadadas que geraram as peças que ora apresento.

Não são descrições, mas sim licenças poéticas que esteticamente proponho ao observador. Estas obras exigiram um uso técnico especifico, onde seus suportes mais se adequassem às diferenças, que senti e entendi desta natureza e como gostaria de mostrá-las. A Craca, que foi a peça germinal deste conjunto, sofreu uma redução de texturas para que o conceito de seu desenvolvimento orgânico fosse mais privilegiado. Sua estrutura foi o foco, mas a escolha do suporte seguiu uma opção poética, e não semântica.

 

Da mesma forma, as outras peças, que acompanham o conjunto, foram exigindo os diferentes materiais em que foram executadas. As Águas-Vivas que tanto estiveram presentes em meus sonhos, e com as quais tive encontros surpreendentes, me levaram a opções leves e contrastantes em suas composições, onde parafusos expressivos se contrapuseram à leveza da transparência dos acrílicos e das fragilidades dos papeis, onde a luz sempre teve uma importância capital, pois é assim que nos encontramos com elas no mar.

O Nautilus talvez seja a peça mais alienígena de todas, pois não foi um encontro marinho, mas sim sobre o mar, que me levou a ela e que a fez definitivamente presente neste conjunto. Os Tatuíras, a Maré Baixa e as Bolachas do Mar têm uma correlação muito forte nesta memorização poética que proponho como visada, pois a areia é o meio onde elas vivem e como nós nos encontramos. Penso que o conjunto de barbatanas vermelhas, que formam a Família – e que estarão presentes nesta mostra – deverá encerrar minha poesia e completar esta Suíte.

Nominar esta série de Água-Viva talvez traduza a forma leve, agressiva, transparente e surpreendente que penso em mostrar como o Mar, que em tantos momentos foi presente em minha vida, segue como o berço biológico de nossa vida. E como, apesar de toda força de criar a vida em torno do qual gravitamos, nós destruímos mananciais significativos para nossa própria subsistência. Afinal, foi no Mar que tudo começou.

 

Ficha Técnica

Título: Água Viva
Artista: Gilberto Salvador
Data: 2 de dezembro a 23 de dezembro de 2010
Local: AC Galeria de Arte

 

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