2013 | Exposição “dois momentos”, Gilberto Salvador, curadoria Fabio Magalhães

Com a exposição “dois tempos” e o lançamento do livro “Mergulho”, ambos sob curadoria do Prof., Dr. Fábio Magalhães, a Pinacoteca do Estado de São Paulo inaugura no sábado, 20 de julho, às 10 h. Serão expostas 30 obras, entre pinturas, objetos e instalações, organizadas em dois núcleos: Década de 60 e Contemporâneo. No mesmo dia e local, haverá o lançamento do livro “Mergulho”, uma leitura da obra do artista, escrito pelo curador da mostra e editado pela Via Impressa, com patrocínio da Engevix, realização da Fundação Gilberto Salvador e Ministério da Cultura em projeto incentivado pela Lei Rouanet.

As salas revelam dois momentos do processo criativo do artista e fazem um elo entre a produção política dos anos 1960, marcada pela reação ao golpe militar de 1964, e a reflexão sobre as formas que predomina na sua poética atual.

O núcleo da Década de 60 será composto por obras bi e tridimensionais em aço, além de gravuras e pinturas sobre recortes de madeira. Entre as peças que compõe este núcleo, pertencem ao acervo da Pinacoteca: Robótica, exposta pela primeira vez na Bienal de Arte de São Paulo de 1969, Rodante e Recorte.

O núcleo Contemporâneo traz uma releitura de Olímpia, de Manet, em 15 peças em fibra de vidro e uma de bronze cromado; além de obras produzidas nos últimos cinco anos, que revelam o diálogo do artista com as formas. Três instalações de grandes proporções completam a mostra, entre elas Espuma, escultura em fibra de vidro, madeira, aço e resina, que sai do belvedere da Pinacoteca e se desenvolve em direção à Avenida dos Tiradentes.

GILBERTO SALVADOR – POÉTICA EM DOIS MOMENTOS

PRIMEIRO MOMENTO

A década de 60 foi de Guerra Fria e de grandes mudanças – O homem pisou na Lua. Foi um período revolucionário no campo das ideias, dos costumes, das ciências e das artes.

Os movimentos da Contracultura ocuparam as ruas, em todo o mundo. Suas bandeiras libertárias atacavam a ordem vigente – “É proibido Proibir”

No Brasil os sonhos foram frustrados pelo golpe militar. Os direitos civis foram desrespeitados, as pessoas eram presas e torturadas por se oporem ao regime. Era preciso lutar pela democracia – Abaixo a Ditadura!

Gilberto Salvador engajou-se nessas lutas e sua produção foi transgressora, de denúncia ao poder militar e aos costumes burgueses.

Já nos primeiros anos criou uma figuração vigorosa e bem-humorada. Surpreende-nos os objetos Rodantes, de 1969 – objetos de cunho experimental, que mantêm o frescor da contemporaneidade. E dialoga com suas obras atuais, especialmente, com a instalação Espuma.

SEGUNDO MOMENTO

Na última década, Gilberto produziu obras tridimensionais de expressão construtiva. Preocupou-se com as variações sobre a superfície, para obter diferentes tonalidades e novos efeitos cromáticos. Percebemos na obra Roda Pião, entre outras, a riqueza de tons que a luz provoca nas superfícies preta e branca.

Maravilhado pela tela de Manet, Gilberto reinterpreta a Olympia. Dedica-se explorar as relações da luz com a superfície e contrastes da figura com o fundo.

Émile Zola já havia realçado o contraste na obra de Manet – “Olympia deitada em lençóis brancos, é uma grande mancha pálida sobre o fundo negro…”

Espuma, obra recentíssima, criada especialmente para o belvedere da Pinacoteca, estabelece relações de esferas, que se reproduzem e que se desagregam. Sugere uma ocupação dinâmica. São formas que se expandem sobre o espaço construído do museu e se projetam no espaço da cidade.

– Prof. Dr. Fábio Magalhães